terça-feira, 10 de janeiro de 2012

No ônibus...


Ela se sentou no segundo banco do ônibus que acabara de tomar. Sentou-se do lado da janela e o banco ao seu lado permaneceu vazio a viagem inteira. Ela observava a paisagem, cada trecho que passava correndo pela janela, como se nunca tivesse visto aquele lugar. Ou talvez por estar vendo-se novamente, brincando ali por entre aquele espaço de terra onde hoje homens trabalham pra levantar algum tipo de negócio particular. Ela observava cada paisagem que se desfazia em segundo do outro lado da janela. Menina tola, deixe o passado para trás. Ela estava sentindo cada centímetro do seu corpo doer, pois ela tinha tomado o ônibus para não voltar. Ela não sabia ao certo para onde iria, como permaneceria. Sabia somente que era seu dever deixar todas aquelas lembranças pra trás. Deveria acelerar esse ônibus, para que não fosse capaz de distinguir o borrão que se formaria do lado de fora. Mas tudo se movia devagar, arrastava-se e ela não queria mais olhar para fora. Mas era difícil. Sempre é, não é mesmo? Sempre insistimos em olhar, saber, procurar tudo aquilo que sabemos que vai machucar. É difícil apagar essas coisas que mechem com a gente, justamente por mexer com a gente. Mas a menina… a menina nem sorria nem chorava. Mas ninguém ali, seria capaz de dizer o que se passava dentro dela. Talvez nem ela mesma. Ela olhou o céu, havia pássaros, poucas nuvens e o sol estava ardendo acima de tudo aquilo que havia ficado para trás. Agora tudo o que restava do lado de fora do ônibus eram árvores, árvores, restos de lembranças e mais árvores. Era tarde para voltar atrás. E isso era bom. Não adiantaria a menina gritar ali, dentro do ônibus que agora estava em meio ao nada. Ela desviou os olhos da janela, olhou a sua volta e pensou que, talvez, ela não fosse a única que desejava não voltar.

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